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quinta-feira, 16 de maio de 2013

                              Falecimento de um herói

             Venho comunicar que meu pai faleceu no último vinte e seis  de abril. Faltavam três dias para ele completar oitenta e quatro anos.
              O céu ganhou mais uma estrela e nós ficamos com a saudade e tudo de bom que ele nos passou durante a vida.
               Ele recobrou a liberdade, pois  seu corpo não tinha mais condições de levá-lo para conhecer o mundo. 
               Peço aos Amigos do Plano Espiritual que o recebam com muito carinho, porque ele nos deixou um legado muito grande e deve ter cumprido a missão que lhe foi destinada ou parte dela e com grande galardia.
                Meu pai querido, onde você estiver receba flores espirituais e nossos beijos carinhosos. Nós te amamos.

domingo, 17 de março de 2013

                 A menina e seu Pai


            A menina estava ali, paradinha,e  pensando:
- Nossa, como papai é quieto, quase não conversa e quando cumprimenta os outros na rua só faz um aceno com a cabeça ou quando vai dizer Bom dia!, Boa tarde! ou Boa noite! Só dizia: “Boooa!”. Algumas pessoas estranham isso. Porque eles dizem: “Onde se viu um homem tão calado no dia a dia, mas que sabe muito bem lutar pelo direito dos outros e  falar em  reuniões e comícios  para tratar de assuntos de interesse público ou de um grupo de pessoas?! Ah, como ele fala bonito... Ouvi dizer que ele conhece leis mais do que muitos advogados e a Bíblia Sagrada mais do que muitas pessoas religiosas.
            A menina era uma garota gordinha, de pele morena clara, estatura baixa e com cabelos negros, escorridos até a cintura, essa porém falava  bastante. Perguntava sobre tudo, era por que para lá e para cá. Eram tantos os porquês que algumas professoras diziam:
-          Cala a boca, menina, não atrapalhe a minha aula!
Outras:
-          Onde se viu perguntar tanta coisa? Isso é assim porque é assim, ora bolas!
-          Você deveria perguntar ao seu pai, já que diz que ele sabe tanto. 
Ela também sonhava mil coisas: sonhava com  um mundo belo, colorido, cheio de flores, pássaros, doces, crianças para brincarem com ela, muitos brinquedos e ruas para se divertirem,  pensamentos livres leves e soltos...  
Na escola, como já deu para perceber,  as professoras não tinham paciência com ela. Aliás, parece que não tinham com ninguém, não sei por que escolher uma profissão para trabalhar com crianças senão têm jeito para isso, não é mesmo?
O pai da menina sim, respondia tudo e a chamava de Emília, referindo-se à personagem da obra Sítio do Picapau Amarelo, pois além de curiosa, ela também era questionadora e pirracenta. Teimooosa... Quando não faziam o que ela queria, batia o pé e  ficava com um bico enorme.
Muitas vezes a menina pensava:
- Meu pai não  faz carinhos na gente como os outros , não beija, não abraça e nem sempre e, só algumas vezes, pega a gente no colo.
 Este, entretanto era de um coração tão bom que isto dava para compensar essas falhas, pois ele não brigava com ela e nem com o irmão, não batia e nem os deixava de castigo, talvez porque também não precisasse. Quando eles eram pequenos achavam que o pai deles era o tio e o tio era pai, pois este se ausentava muito do lar por causa do trabalho e para ir à reuniões políticas, só que eles ainda não entendiam isso. Um dia a menina e o irmão descobriram que o Papai Noel deles era o tio, aí que passaram a achar mesmo que ele fosse o pai, engraçado não é?
Algumas vezes, a menina queria fazer perguntas ao seu pai e acabava nem fazendo, pois via que ele estava muito atento à leitura de algum livro ou jornal. Pois o que ele gostava muito de fazer era de ler  para adquirir muitos conhecimentos sobre política, religião etc e também lia para a menina e seu irmão.
Sabem que antes mesmo do seu irmão mais velho nascer, seu pai já havia comprado toda coleção infantil do Monteiro Lobato, que seria do primeiro que nascesse. Como seu irmão teve a sorte de nascer primeiro ficou com ela. Ele também ensinava muitas coisas por meio de suas ações, pois estava sempre pronto para ajudar os outros, não matava bichos nem pequenos nem grandes. Mesmo que deitasse muito tarde não hesitava em levantar cedo para ir ao trabalho, era muito educado com as pessoas, até com aquelas que lhe tratassem mal, não dizia palavrões, respeitava as pessoas e as aceitava como eram e estava sempre disposto a perdoar as falhas alheias.
Um dia a menina perguntou:
-          Pai, por que você não mata cobras e nem outros bichinhos?
-          Porque são vidas, minha filha – respondeu-lhe o pai.
-          Ah.
Um dia, quando  a menina já estava com quase dez anos, recebeu uma notícia de sua mãe:
-Filha, você vai ganhar uma irmãzinha ou irmãozinho e ela ficou muito feliz, mas depois com um pouco de ciúmes, pois passou a receber menos atenção.
            ...
           
Quando a menina começou ir à escola foi um tormento para ela e para a família.
- Menina – dizia a professora – você precisa decorar as lições da cartilha!
Sua mãe também ficava brava.
E ela pensava:
Eu  não gosto disso, não tem graça esse monte de palavras sem nada a haver uma com outra. Eu quero coisa diferente.
Na verdade, ela queria  aprender a ler logo, mas  para ler a coleção do Monteiro Lobato e os livros que o pai dela lia, só não queria ler a cartilha. Ela não sabia explicar, mas ela achava muito chato tudo aquilo, como que podia aprender a ler umas coisas estranhas, ter que misturar bolas, com bois e barrigas? E ficava imaginando como seria escrever o nome de vários brinquedos,  bichos e coisas em momentos separados. O  pai até que entendia as razões da menina. O que ele não entendia é por que ela não gostava de estudar História do Brasil e a menina  também não sabia explicar que era porque a professora ensinava coisas diferentes das que ela lia nos livros do seu pai, os quais contavam Histórias verdadeiras.
            Ah, a menina também gostava muito de inventar histórias, inventava cada uma...
Um dia ela disse para mãe:
-          Mãe, minha amiga falou que a avó dela de setenta e dois anos teve um bebê!
De outra feita ela disse que ouviu no rádio que em algum lugar do mundo a temperatura tinha chegado a 100ºC.
Certa vez, ela até apanhou porque inventou uma história envolvendo professores e colegas e na sua casa todos acreditaram, mas quando seu pai descobriu a verdade deu uma surra nela, foi a segunda e última surra que ela levou dele. Mas ele não sabia que a menina, um dia, viria adorar inventar histórias e que não teria a mesma imaginação de quando era menor, pois ela ficou tão chateada que nunca mais mentiu e nem aceitava mentira de adultos. Então ficou mais difícil para ela inventar as histórias. Mas ela nunca deixou de tentar e adorava contar e ler histórias que achava nos livros.
Teve uma época que o pai dela ficou muito tempo longe de casa,  pois como ele lutava para todos terem direitos iguais, como moradia, estudo, alimentos etc, era mal visto pelas pessoas ambiciosas e exploradoras de pais de famílias, mães e crianças.  Foi nessa época que ela começou a  perceber o quanto ele era corajoso.
Depois de alguns anos ele foi preso, torturado pela polícia militar, pois naquela época (?!) era proibido dizer a verdade sobre o que acontecia de ruim no país, mas não denunciou nenhum companheiro e a menina começou a ver o pai como um herói, só que não podia comentar com os amiguinhos e nem com gente grande, bem lá  no fundo ela sabia que ele era um grande homem e queria mudar toda aquela História.
Quando ela já estava moça e se formou na oitava série, seu pai estava preso e ela disse-lhe:
-          Que pena, pai, você não poder ir na minha formatura.
Ele, então, respondeu:
- Quando você se formar no Ensino Médio, que naquela época era colegial, iremos nós cinco jantar fora.
Quando ela se terminou o segundo grau,  ele estava novamente preso. Apesar de chateada, ela compreendeu.
Ela só não conseguiu entender uma coisa:
-          Por que ele não veio na sua  festa da sua formatura do Curso Superior.?
Como ela já era adulta, acabou entendendo que.  às vezes, as pessoas assumem compromissos que não podem ser desmarcados ou por algum  motivo não se sentem dispostas.
Nessa época ela já era casada e mamãe de um casal de adolescentes e com o relacionamento conjugal em crise.
O que a menina-mulher achou bom mesmo, foi quando ela precisou se separar do marido e o seu pai deu a maior força, até pagou advogada para ela.
Um dia, ela resolveu que queria fazer especialização em Literatura Infanto-Juvenil e pensou:
-          Como fazer se não tenho dinheiro nem para pagar aluguel?
Comentou com o seu pai e ele disse para ela que escolhesse a faculdade e pagou-lhe o curso todo.
- Não acham que isso foi mesmo que foi incrível?!?!
Ah, o que seria dessa menina sem esse pai maravilhoso...?
Ah. Ela também tem mãe, viu? Que sempre foi muito preocupada e prestativa, pois quando menina nasceu tinha problema de saúde e se não fosse a mãe dela correr atrás de médicos e tratamentos, seria impossível a menina estar escrevendo isso hoje. Quando  o pai dela precisava fugir do exército ou ia preso, quem cuidava de tudo no lar era a sua mãe e também e se alguém falasse mal de seu pai,  ela era a primeira a defender o marido, embora não entendesse bem porque ele se sacrificava tanto pelos outros.
Hoje esta menina já uma senhora, é professora de Língua Portuguesa e procura dar aulas dinâmicas, com  conteúdos necessários para que seus alunos construam seus conhecimentos, mas que os agradem. e o preparem para a vida.
 O  seu pai? Bem, o seu pai continuou na luta por um mundo melhor e a ajudá-la sempre que possível e necessário.

            

sábado, 9 de março de 2013

Minhas  memórias de meu Pai


Muita Paz à todos.
Hoje pretendo publicar um texto em homenagem ao meu pai e o título dele é:

                                              

Minhas memórias de meu Pai

                                               PREFÁCIO

Como é duro escrever algo... Confesso que nem sei como começar. A dificuldade já começa no título, poderíamos escrever um livro inteiro de tentativas.
Digamos de passagem que este título me é muito significativo, talvez não ao leitor amigo que ainda não conhece a história de papai e aqueles que não sabem da minha identificação com a personagem Emília e seu criador – Monteiro Lobato. Talvez parafraseando a obra de Luciana Sandroni Minhas memórias de Lobato pensei no  título de Minhas memórias de meu pai.
Bem, só mais uma  observação: me prontifiquei  a fazer isso porque sempre pensei em escrever algo sobre a vida atribulada e heróica do meu pai,  também porque disseram que sou capaz de escrever algo útil e estou tentando acreditar nisto e registrar acontecimentos que passarão da memória de algumas pessoas como fatos que ficarão na história juntamente com tantos outros que são semelhantes em alguns pontos e divergem totalmente em outros, pois a vivência de cada um é única. Segundo Bergson espero trazer a memória pura trazendo à luz as experiências do passado.



                                   História desta memória
Meu pai, a pedido de um amigo,  já havia iniciado a escrita de suas memórias.
A importância desta é muito grande pois retrata uma fase da História do nosso país e a luta de muitos brasileiros como meu pai, que fez parte da mesma, e, com sangue e suor, unindo forças,  conseguiram mudar o rumo da nossa História.
Oxalá eu consiga estruturar os dados coletados e escrever de maneira tal que não fique enfadonha esta leitura,  que desperte a curiosidade do leitor e o leve a buscar novos fatos da História a partir daqui. Entretanto o mérito desta há de ser de meu próprio pai.
            Contudo, para que haja um melhor entendimento, é necessário que se faça um retrospecto na História de nossa pátria amada, desde a época do nascimento , que já foi marcada por momentos difíceis. Aliás, da maneira como nosso país foi invadido e conquistado, foi necessário muitas lutas para a defesa da nossa pátria e dos direitos do povo a quem de fato pertenciam estas terras. Sempre houve um massacre dos cidadãos brasileiros e isso começou com os índios, que, segundo os portugueses, não eram filhos de Deus. Eles eram exterminados e suas carnes servidas aos animais domésticos.
Entretanto antes de iniciar essa retrospectiva à História do país, obedecendo ao desejo de meu pai, que havia feito esta introdutória em seus escritos vou citar um físico de  grande valor para este e seu transcrito, entre aspas, com pequenas correções e a colocação de que se possível fosse fazer esta viagem no tempo, bem mais fácil  seria escrever suas memórias.

                                              

Mário Novello
Mário Novello, grande físico que nos apresenta  “O círculo do tempo”.“A Filosofia nasce sob a força de um desejo, desejo de eternidade, recusa obstinada do tempo. Platão e Aristóteles são os seus sacerdotes radicais, adversários da doxamania, em oposição permanente à opinião e a sensação que são mutantes e buscam o saber imutável do ser imutável. Este é um dos motivos do nascimento da teoria das idéias. Aquelas de natureza eterna, que permitem a constituição do conhecimento e do saber. As ciências prolongam a filosofia clássica, esta filosofia clássica – é a razão pela qual as estelas se mantiveram fixas por tão longo período... mas de Galileu ao século XX houve uma viagem – a entrada do tempo nas filosofias, nas ciências e nas artes. Virtuais, fractais e figurais, conceitos filosóficos, proposições científicas e afetos sensíveis entronizam o tempo e tornam-nos senhores de nossa perplexidade.
Mário Novello é um cientista e como tal entre a sofisticação da matemática e as alternâncias do movimento da física, por exemplo, se apropria de curvas do tempo, que violam as nossas certezas, que envolvem a questão temporal, a de que um corpo só pode viajar para o futuro, afastando-se do passado. Godel introduz a curva do tipo tempo fechada, que tornam possível  descrever tecnicamente o que se chama viagem ao passado. À diferença do pensamento antigo, que subjuga o tempo às variáveis do movimento, existem curvas aceleradas que tornam possível a um observador que se movimenta sobre esta curva retornar a seu passado. ‘Umas séries crescentes de dificuldades teóricas libertam o tempo’, afirma o pensador moderno Mário Novello, com seu sonho de universo centrado, labirintos de luz, para uma viagem quase sem fim do espírito, em      que cálculos e demonstrações matemáticas misturam-se como o desejo do tempo. Com o desejo do tempo puro. É o campo teórico em que o mais criativo se identifica em um plano de referência desprovido de consistência ‘Godel’. E o paradoxo como diz o filósofo, torna-se a mais alta paixão do pensamento e não devemos pensar mal do paradoxo porque é ele a paixão do pensamento e um pensador sem paradoxo é como o amante sem paixão. De modo nenhum é o caso de Mario Novello, um cientista apaixonado, brilhante, rigoroso e criativo”.


           



                                   O Brasil de “Getúlio Vargas”

Ou, pelo menos, ele deveria achar que fosse (sic!)
Em 1930, ano seguinte ao nascimento de papai, o Brasil passava por uma fase política marcante. Neste ano estavam realizando eleições e o Sr. Getúlio Vargas havia saído como candidato à Presidência da República.
Foi derrotado por Júlio Prestes e, como não reconheceu  a situação, deu um golpe militar,  destituiu Washington Luiz e assumiu o poder.
Isto fez com que a família de meu pai, Jano Ribeiro, saísse de Lorena, que é a cidade onde ele nasceu,  viesse a residir em Mogi das Cruzes e posteriormente se  transferisse para capital.
Moraram primeiramente, se a memória não o estiver traindo, na rua Conde de Sarzedas, próximo ao centro velho da capital e nesta época o meu avô paterno, Sr. Joaquim Batista Ribeiro, já não estava mais ligado a esta família.
Por volta de 1932, época em que os paulistas começaram a exigir a volta do estado de direito, partindo para a Revolução Constitucional. Fase que foi relatada por Cora Coralina em uma de suas obras (?), na qual ela descreve a intensidade do espírito legalista que estava arraigado na juventude estudantil e nas forças mais conscientes da sociedade paulista, pois  que até as crianças passaram a dar sua colaboração nesta luta.
Como pode-se perceber foram anos difíceis para esta e muitas outras  famílias brasileiras.
Depois disto a família passou a residir na Rua da Moóca, e tanto meu pai, como meus tios estavam sob os cuidados da avó materna, Maria de Mattos Cavalcante, pela qual ele tem grande apreço.
 Sem a companhia do esposo, minha avó paterna, Jacira Cavalcante Ribeiro,  resolveu procurar outra companhia,  passou a morar com um companheiro, Sr. Ameleto Francischelli e levou os três filhos: Jano, Janil e Janei  a morarem com ela. Dessa união nasceu outro filho, Arsênio Francischelli. Passaram a residir, então, na Rua Domingos de Oliveira. Época em que São Paulo tinha sua ecologia respeitada, se não totalmente, mas com a possibilidade de se encontrar água límpida nos rios, mas em que começou sua transformação com a vinda do Jóquei-Clube para perto da Rua dos Trilhos e algumas indústrias pequenas começaram a se localizarem na Moóca, Brás e Belém.

                                  
                                               Golpe de 45

            Outubro de 1945...
            Um fato inesperado acontece...
            O golpe militar comandado por Dutra e Góes Monteiro, apoiado pelas forças conservadores e do imperialismo. Getúlio Vargas é deposto
            Isto levou meu pai, com apenas dezesseis anos, e muitos outros, às ruas para  protestarem
 Como?!  Muitos devem estar pensando, achando que haja alguma incoerência nos fatos, mas não.
Vejamos.
Era época de guerra, dificuldades tremendas, filas para comprar qualquer coisa que fosse. Filmes que mostravam a força do imperialismo alemão contra o comunismo e o ataque aos judeus pobres, pois a visão que se tem é que os ricos eram protegidos  dentro da classe capitalista e o que mais impulsionou Hitler a atacar os judeus foi a derrota contra a União Soviética.
Os capitalistas de outros países apoiavam o imperialismo alemão que se propunha a derrotar a URSS. Cujos planos divergiam dos outros países imperialistas, pois o mesmo resolveu ampliar suas fronteiras antes de atacar seu foco principal.
A Polônia foi invadida e o rumo das coisas mudaram. A URSS, que havia feito um acordo de paz com a Alemanha, sendo invadida por esta, passa a revidar a investida do imperialismo alemão e os outros países imperialistas, como EUA, Inglaterra, França, os quais ficaram aguardando para combater as forças alemãs, italianas e japonesas.
Getúlio Vargas havia se posicionado, mesmo sob pressão, contra as forças do eixo,  sofreu este golpe do imperialismo americano.
Passado os primeiros dias deste, as forças interessadas nas eleições conseguiram que ela fosse realizada a dois de dezembro do mesmo ano. Isto propiciou um certo clima de liberdade burguesa, até que o imperialismo voltasse a atacar. No dia sete de maio de hum mil novecentos e quarenta e sete é cassado o registro do Partido Comunista do Brasil, as outras forças da política,  como na Alemanha nazista,  foram poupadas, isto permitiu que os debates políticos continuassem e tanto a Praça da Sé como a Praça do Patriarca se transformaram em locais de debates políticos.
Foram nestes debates, onde  as pessoas  não se limitavam somente a discutirem sobre política, mas também, ciência, filosofia, religião... , enfim tudo o que preocupava-lhes. Papai se interessou tantos pelos encontros e se envolveu a tal ponto de lagar os estudos. Foi ali que  conheceu pessoas das mais diversas posições e com profundos conhecimentos em filosofia e política o que o fez passar  a freqüentar a Esquerda Democrática, o Centro Cultural dos Anarquistas, que ficava na Rua José Bonifácio e com isto teve a oportunidade de conhecer melhor a tendência política e filosófica.
 A Esquerda Democrática foi transformada pela luta daqueles que queriam um posição mais clara sobre o socialismo. Dela faziam parte ex-membros dos movimentos progressistas como: Alípio Corrêa Neto,  Cid Franco, Domingos Taveira, Aristídes Lôbo, João Mangabeira, Fúlvio Abrahmo, Costa Corrêa Neto, professor Lobato, Nicola Cinapoli e tantos outros que tiveram atividades políticas em outras organizações.
            Devido sua enorme dedicação, papai foi eleito para responder sobre o movimento sindical do então Partido Socialista Brasileiro e aí começou a sua atividade que iria confrontar com o Estado Capitalista.

Partido Socialista Brasileiro


            Vinte e sete de setembro de mil novecentos e quarenta e oito.
            Contando com a idade de dezenove anos meu pai assumiu o cargo de servente  extranumerário diarista, para ter exercício na   R-5, a contar da presente, Departamento da Receita. Emprego que foi-lhe arranjado pelo deputado Ozair Mota Marcondes, eleito para Assembléia Legislativa de São Paulo, pela legenda do Partido Socialista Brasileiro.
            Papai sempre procurou levar sua vida ao lado da classe operária e do povo.
            Observe, caro leitor, as informações do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) a seu respeito algum anos depois:
            JANO RIBEIRO = filho de Joaquim Batista Ribeiro e de Jacyra Cavalcante Ribeiro, nascido aos 29/04/1929 em Lorena – SP – Residente na Rua Coimbra, 462 (Na época em que foi editado este relatório nós já residíamos em Diadema, à rua Coimbra 462, Pque 7 de Setembro). Conforme relatório de 13/01/1949, o epigrafado fez uso da palavra no comício que o PSB realizou no ano anterior, em frente a indústria Orion S/A, dizendo, entre outras coisas, que o atual Ministro do Trabalho é um salafrário e que não corresponde aos anseios do operariado. Discursando no comício que o PSB fez realizar no dia 21/01/1949, na Vila Guiomar, em Santo André, JANO RIBEIRO, secretário da Comissão de SP, concitou o povo a lutar abertamente pelas eleições sindicais contra os Tribunais de Emergência e pelo direito de greve. Afirmou que os sindicatos, pela forma como se encontram, quando se apresentavam para tratar de reivindicações, esses sindicatos eram os primeiros a taxá-los de “comunistas”. Citou como exemplo, companheiros seus da E.F.S.J. que por pedirem aumento de salários, foram injustamente presos e encarcerados. Concitou os operários a lutarem por uma “Frente Operária” a fim de combater a carestia de vida. Atacou em seguida o Sr. Honório Monteiro, Ministro do Trabalho, taxando-o de demagogo e reacionário.
            Citado em relatório de 09/09/1950, como funcionário da Secretaria da Fazenda e como fervoroso adepto do socialismo, fazia uma  força tremenda para divulgar os jornais do PSB, pois seu irmão menor era proprietário de uma banca de jornal na Rua Xavier de Toledo, a quem instigava a aumentar as vendas.
            Relatório sobre a conferência que o Sr. Walter Schubert proferiu na noite de 17/04/1952, no Conservatório Dramático e Musical de SP, subordinado ao tema “O Segredo da Felicidade”, diz que a certa altura, foi aparteado pelo indivíduo JANO RiBEIRO – residente à Rua Pérsio Azevedo, 53 – Penha, que sofre das faculdades mentais dizendo textualmente em altas vozes “é mais fácil um elefante passar um buraco de agulha do que um rico ir para o céu”, foi convidado a se retirar. O que foi feito com o auxílio do relatante. Assinante do Jornal comunista “HOJE”, conforme relação de maio de 1952, a qual consta como endereço Rua Pérsio de Azevedo, 53 – Penha – Capital.
            Analisando todos estes relatórios do DOPS, papai chegou a conclusão de que eles não deveriam ter nada a fazer, pois ficavam vigiando o cidadão que pagava seus impostos e isso o levou a certificar-se de que o Estado não passava de defensor das classes dominantes e que, em cada etapa do desenvolvimento político e econômico, este Estado se apresenta de formas diferentes, o que pode ser constatado pelo período de ditadura militar que o país foi mergulhado pelo imperialismo americano e cita os livros  O Príncipe de Maquiavel e As origens da família, e propriedade privada e  o Estado de Friedrich Engels.

           
                                               Nova arbitrariedade do DOPS

           
            Depois do ocorrido anteriormente, papai foi para o Paraná e lá casou-se no dia 06/05/1953. Quando retornou a São Paulo, em maio de 1954, com mamãe, Dna Avelina Lopes Ribeiro, que estava grávida do primeiro filho, foram morar na Rua Professor Afonso Bovero, nº 510, apto 05- Sumaré – SP, capital. Onde ela trabalhava como empregada doméstica e ele na “EDITORA BRAZILIENSE LIMITADA”, situada à Rua Barão de Itapetininga, 93 – 12º andar, como cobrador da referida firma.
            Neste local ele teve a oportunidade de ler vários livros do dono do apartamento e os temas sobre ciência e literatura geral lhe foram de grande ajuda, pois o mesmo só havia terminado o 1º ginasial (o que teoricamente corresponde atualmente a 5ª série do Ensino Fundamental, pois apesar de toda burocracia, repressões e exclusões, o nível de ensino era muito superior ao atual).
           
            Vou fazer um adendo e relatar um fato interessante que mamãe nos contava quando éramos pequenos, o mesmo está relacionado  a dedicação de papai à vida política e a vida árdua que ele e mamãe levavam. Desde quando papai retornou a São Paulo, retomou a luta pela igualdade dos direitos. Mamãe já estava em estado avançado de gravidez e, como muitas vezes papai passava a noite em reuniões, mamãe, após um dia inteiro de trabalho e em estado de gestação, ia dormir e, como só tinham uma chave, jogava a chave do lado de fora do cômodo para papai poder entrar. Entretanto muitas vezes ele não voltava, porque as reuniões terminavam tarde demais ou ele tinha que se esquivar da perseguição do exército.... Isso fazia com que mamãe tivesse que pular a janela para pegar a chave. Meu irmão mais velho, Carlos Lopes Ribeiro, nasceu no dia 20/12/1954.

            No dia 23/08/1954 papai distribuía um manifesto quando foi preso, novamente, pelo DOPS.
 O conteúdo do manifesto era o seguinte:
            “Aos trabalhados e ao Povo.
            Os sindicatos de trabalhadores por intermédio de seus Presidentes abaixo assinados, atendendo as deliberações de assembléias gerais, levam ao conhecimento dos trabalhadores das Cidades e do Campo, e ao Povo o que se segue:
a)      Fica decretada a greve geral de 24 horas, em princípio, para o próximo dia 2 de setembro. Terá início a meia noite do dia 1º, devendo encerrar-se às 24 horas do dia 2.
b)      Reivindicamos aumento de salários nas seguintes bases: de CR$1.190,00   a CR$5.000,00, aumento de CR$1.100,00; além de CR$5.000,00, 20% de aumento, em teto, sem assiduidade, sem descontos de alimentação ou quaisquer outras cláusulas restritivas.
c)      Exigimos do Governo o congelamento dos preços dos seguintes gêneros: -arroz, feijão, carne, café, pão, leite e banha, na base dos preços vigorantes em 1º de maio próximo passado.
Temos a certeza de que nossas reivindicações são sentidas e contaremos com o apoio de todos os trabalhadores, no que se refere ao aumento de salário e  o congelamento de preços. A luta pelo congelamento de preços é uma reivindicação sentida pela maioria do nosso povo como: OPERÁRIOS E CAMPONESES; TRABALHADORES E DONAS DE CASAS; ESTUDANTES E INTELECTUAIS; COMERCIANTES E PEQUENOS INDUSTRIAIS, pois todos sofrem as conseqüências das elevações dos preços dos gêneros alimentícios, das mercadorias, das matérias primas, ,impostos e máquinas.

            Companheiros:

            Só conseguiremos a vitória das nossas reivindicações, através da unidade de ação. A organização nos locais de trabalho e nos Sindicatos, que é a base principal, é a melhor garantia de vitória. Avante.
            NÃO ASSINEMOS ACODOS EM SEPARADO.
TUDO PELO CONGELAMENTO DE PREÇOS
PELO AUMENTO DE SALÁRIOS.
VIVA A GREVE GERAL DO DIA 2.
VIVA O PACTO DE UNIDADE.
 VIVA O OVO UNIDO COM OS TRABALHADORES.

REMO FORLI  Presidente Sind. Trab. Metalúrgico
NELSON RUSTICI Presid. Sind. Trab. Têxteis
            CELGIO VALVASSORE  Presid. Sind. Marceneiros
            GABRIEL GRECCO   Presid. Sind. Trab. Gráficos
            JOAQUIM G.G. FILHO  Presid. Sind. Trab. Hoteleiros
            PEDRO GILARD FILHO   Presid. Sind. Trab. Construção Civil
            MANOEL VALERIANO FELIX   Presid. Sind. Trab. Lacticínio
            E OUTROS DA CAPITAL E DO INTERIOR”

            A seguir papai transcreve o que declarou no interrogatório do DOPS:
            “Não pertenceu nem pertence ao extinto Partido Comunista do Brasil, nem mesmo em sua fase legal, pois, na legalidade do referido partido, o declarante já pertencia ao Partido Socialista Brasileiro, sendo que, atualmente não pertence  a partido algum. Atualmente a política do declarante é a política sindical, pois, já está regularizando sua situação junto ao Sindicato dos Comerciários. Foi detido na Praça da Sé, cerca das vinte e duas horas, quando fazia a distribuição de boletim já citado acima. Segundo o declarante ouviu, a sua detenção se verificou sob a alegação de que estava fazendo comício na referida Praça, porém, não fez mais que distribuir o citado boletim, referindo-se a aludida greve. Na opinião do declarante a greve não é necessária, pois, o que realmente interessa a todos é o congelamento dos preços de primeira necessidade. Com relação à propalada greve quer deixar bem claro não é propriamente contra a greve, pois sem ela não haverá congelamento de preços, conforme se vem verificando”
Houve outras perguntas sobre fatos de sua atividade política.
Logo  depois da greve, papai começou a se interessar por conhecer o programa e o estatuto do Partido Comunista Brasileiro. Como já tinha pertencido ao PSB, teria que recomeçar sua atividade política e tendo escolhido lutar pela implantação do comunismo, nada mais lógico que procurasse um partido que o seu relacionamento internacional estivesse ao lado do socialismo, isso é, que apoiasse a URSS. Aquela parte do mundo, que em 1917, conseguiu levar, por meio de pressão das massas, que vinha desde 1905 procurando uma saída para viver uma vida de paz, trabalho e justiça social, que  transformou-se em realidade, com um dos maiores gênios VLADIMIR ILICH ULYÁNOV (LENIN) à frente do Partido Comunista da nova URSS.
            Depois de ter lido o Manifesto de agosto de 1950, seu maior referendo foi a política em defesa da paz e do socialismo, isto justifica ele não ter lido até então as obras do marxismo. Ele afirma ter feito a escolha correta, pois a partir desta data teve acesso as revistas do seu partido e outros da mesma linha de pensamento e também sentiu a necessidade de ler livros sobre a história nacional e internacional, além dos jornais do partido feitos na URSS. Segundo papai, tendo a frente o partido é possível provar que se pode atingir o comunismo. É imprescindível ter em mente que essa luta é de vida para os povos e de morte para o imperialismo. Ele alerta:  que avanços e recuos são próprios da luta,  assim como foram de todas as transformações, desde o regime escravagista, feudal e, não será diferente, a do capitalismo, a qual porá fim a luta de classes.

            Outro relatório do DOPS
Antes de passar para o mesmo, devo dizer que nasci em 29/12/55. Nesta época meus pais moravam num cortiço no bairro de Pinheiros e a vida não era nada fácil para ambos. Mamãe trabalhava de doméstica e nos deixava na creche durante o dia e papai trabalhava bastante e se dedicava à luta por um mundo mais justo.
            "Relatório referente à assembléia que os comerciários levaram a efeito no dia 21/11/57,  para tomada de posição face ao aumento concedido à classe e possível represália patronal, diz que JANO RIBEIRO, sindicalizado, vulgo 'carioca' usou da palavra concitando os comerciários a que não trabalhassem à noite nos meses de fesas e que se unissem em torno do sindicato para obtenção da vitória final.".            
            Palavras de papai perante o ocorrido: "Quero mostrar que o aparelho do estado capitalista só vê o que interessa a eles e dão milhas daquilo que roubam dos trabalhadores aos dedos duros. Vejam que esse infeliz sem capacidade ou com medo do trabalho, informa que eu, JANO RIBEIRO, falei na assembléia me dando um apelido, vulgo 'carioca', só um idiota poderia ter a capacidade de dizer isso, pois para falar tive de apresentar minha carteira do sindicato e não haveria necessidade de usar nenhum nome falso, ainda que na luta de classe isso deva ser normal, pois é menos vergonhoso que a fome, a miséria, as guerras sujas do imperialismo que os patrões levam aos povos ainda iludidos com seu anticomunismo.".

            A campanha de Juscelino
            Papai participou ativamente na campanha de candidatura de Juscelino, pois acreditavam que  isto poderia avançar as conquistas democráticas no regime burguês.
            Após a vitória de Juscelino, na qual foi fundamental a participação do partido. Isso nenhuma força política poderá negar e também a tentativa frustrada de golpe com a intervenção das forças legalistas, tendo a frente o Marechal LOT, possibilitou a posse de Juscelino como presidente, no período de 1956 a 1960.
            Segundo papai, quanto as liberalidades, eles acertaram, mas do ponto de vista da luta para o comunismo não avançou muito, pois a capacidade de análise deles os levou a se descuidarem de um trabalho mais profundo junto ao proletariado no sentido de tomar em suas mãos a reforma agrária e a luta contra a carestia. Passou o proletariado ver só suas reivindicações de salários e aquelas que mais de perto eram consideradas os seus interesses. Os militantes sentiram-se incapazes de verem o estágio real da luta pelo comunismo e lembraram-se que não bastava boa vontade dos mesmos, mas uma política real que levasse à derrota do capitalismo. Ao seu ver isto só será possível quando se começar  a luta ao lado dos índios, exigindo a demarcação de suas terras tomadas à força desde a invasão portuguesa. Outra questão é a da escravidão negra. Juntando estas questões, vê-se que enquanto não se fizer como bandeira da reforma agrária, como centro das atividades do partido, junto com o proletariado e todas as forças que não aceitam essa opressão, estar-se-á atrasando a vitória final pelo comunismo.
            Outro fato que demonstra a necessidade de se colocar claramente os objetivos do socialismo, para que não ocorra as massas aceitarem soluções apresentadas pelas forças da Social Democracia. Fato este que permitiu o aparecimento de JÂNIO DA SILVA QUADROS, que partiu de suplente de vereador, a prefeito, depois a governador e em 1960 foi eleito Presidente da República com o falso lema da moralização da política. Isso levou as massas a acreditarem que as questões de seus sofrimentos não eram o imperialismo do EUA, nem as estruturas agrárias a serviço do mesmo imperialismo, que era motivo real de toda sua desgraça.
            Foi mais um ano de luta para tentar, no mínimo, garantir as liberdades burguesas, pois todos lembram, o golpe teatral, fruto de conchavos que ele, JANIO QUADROS, fez antes das eleições, juntando as forças mais heterogêneas para poder derrotar a candidatura do Marechal Lot.
            Mais uma vez se tentou garantir a liberdade burguesa, porque o eleito com uma grande maioria iludida pela sua demagogia, fez o país,  em menos de um ano, ficar sem governos, devido ao uso e abuso da demagogia e não encaminhamento de nenhum dos problemas que sempre afligiram nosso povo. Houve uma grande batalha pela posse de JANGO GOULART.

            Papai ou titio?
            Mais uma vez interromperei o quadro político para citar acontecimentos de nossa vida familiar: Lembro-me que quando contávamos, eu e meu irmão mais velho, com a idade de 3 e 4 anos, respectivamente. Devido as ausências constantes de papai junto à família, pela luta contra as desigualdades sociais, e também pelo motivo de meu tio Arsênio, irmão de papai,  morar em nossa casa antes de seu casamento com a prima da mamãe,  chamávamos o papai de tio e o titio de pai.
            Um dos motivos que reforçava essa idéia,  é que papai dizia que Papai Noel não existia e que se assim fosse ele seria muito injusto. Então começamos a ficar desconfiados e, próximo ao Natal, começamos  a fingir que dormíamos e vimos meu tio Arsênio colocando presentes nos pés de nossa cama, já que a família não tinha por costume montar árvore de Natal. Isso reforçou a nossa imaginação infantil de achar de titio era o nosso papai e também Papai Noel.
            Depois que crescemos mais quem nos dava os presentes de Natal, em dinheiro, todos os anos era o pai do tio Arsênio, o Sr. Omeleto, que era avô, apenas, da nossa prima Rosana. Hoje em dia é papai que dá presente em dinheiro para seus netos, mesmo para os que já passaram dos vinte anos.
            Devo acrescentar que descobrirmos que Papai Noel não existia, pelo menos não da maneira que costumam caracterizá-lo, não nos trouxe trauma algum,  ao contrário reforçou a idéia das injustiças e diferenças sociais.


            Nossa ida para Diadema
            Passamos a residir em Diadema em agosto de 1961. Diz a mamãe que foi no dia da renúncia do JANIO QUADROS. Eu e meu irmão mais velho iríamos completar 6 e 7 anos respectivamente.
            Foi época de grandes dificuldades, também. A  casa em que fomos residir era de tijolos, sem acabamento, através dos  quais podia se ver o lado de fora e na época do frio sofríamos muito, ainda porque o chão era de terra batida. Depois foi construída uma outra casa que também demorou muitos anos  para ter acabamento. Lembro-me que  mamãe tirava água do poço com sarilho e tinha que subir uma escada de pedreiros, com balde cheio,  para levá-la para o interior da casa.
            Quando fomos lá morar, não tinha luz. Papai que, junto com outros  moradores, batalhou para conseguir puxar a rede de energia elétrica e abastecer aquela região, pois a energia elétrica  e as linha de ônibus só chegavam até onde hoje é o centro da cidade, ou mais especificamente até a região da Praça da Moça, onde tinha um colégio de freiras - por sinal não costumavam por em prática o que aprendiam nos Evangelhos, pois lembro-me de uma ocasião que fiquei com muita vontade chupar jabuticabas e mamãe foi pedir-lhes para que dessem ou vendessem algumas, entretanto as mesmas se negaram a fazê-lo. Mamãe e eu saímos de lá muito decepcionadas e, depois de uns dias, as conseguimos gratuitamente de uma senhora muito simples que era tida como louca. Que ironia, não?!
            As ruas eram todas de terra. Morávamos no Parque 7 de Setembro e estudávamos na E.E.P.G.João Ramalho", que na época era localizado na Avenida Antonio Piranga, onde hoje é E.E. "Professor Francisco Daniel Trivinho". Lembro-me que quando meu irmão primogênito passou para a quinta série, mamãe , como sempre fazia conosco, ia levar-me de manhã para a escola e buscava-me, pois o percurso era longo e muito deserto. Á  noite fazia o mesmo percurso e por inúmeras vezes fomos perseguidos por pessoas mal intencionadas. Nesses momentos tínhamos que correr e correr muito. Outro fator complicante à nossa ida para a escola é o fato da rua não ter asfalto e  quando chovia muito, acontecia de perdermos nosso calçado na lama da rua, principalmente quando a prefeitura mandava passar o trator na rua. Diziam que era para melhorá-la, mas até que ponto ainda não sei, embora gostássemos de ver este trabalho.
            Papai sempre cônscio de suas responsabilidades, trabalhava o dia inteiro e quando saia do serviço ia para as reuniões do partido ou para campanhas. Quando estava em casa lia bastante. Sempre o via concentrado na leitura de um livro,  de uma revista  ou um jornal.
Acredito que isto foi-me de grande valia, pois aprendi a amar as Letras, mas não da cartilha, não gostava daquele monte de palavras não contextualizadas. Ficava a pensar: "O que tem a ver essas palavras uma com a outra- bola, barriga, babá, boi...? Eu queria aprender a ler coisas interessantes, como as obras de literatura infantil, os livros que papai lia... . Mas isto será assunto tratado em outro capítulo.

            A luta de papai pela melhoria das condições de vida de nosso bairro e da cidade
            Como já foi relatado acima, a rua em que foi começada a construção de nossa casa não tinha energia elétrica domiciliar para atender as necessidades dos moradores que compraram propriedades na Rua Coimbra e em outras do mesmo bairro, Parque Sete de Setembro.
            Diadema tinha se emancipado de São Bernardo do Campo em 1960 e não tinha iluminação pública na maioria das ruas, não tinha água encanada, serviço de coleta de esgoto, os transportes coletivos eram precários. Enfim, tudo estava para ser conquistado dos poderes públicos, tanto local, como estadual e da União. Papai começou sua batalha nestas conquistas e a primeira foi da energia elétrica para a nossa rua,  pois ela estava mais próxima da Avenida Alda. Para isso teve que procurar todos os donos dos terrenos, que na sua maioria não residiam em Diadema, pois haviam comprado as terras esperando sua valorização ou por dificuldades econômicas ainda não tinham conseguido construir naquela época.
            Para obter as melhoras na região, papai lutou pela formação da Sociedade Amigos do Bairro do Parque Sete de Setembro. Essa iniciativa foi relativamente facilitada pela falta total da estrutura habitacional, não só no bairro como em todo o município. Muitas pessoas de outros bairros apoiaram a organização da Sociedade Amigos do Bairro. Futuros candidatos a cargos executivos e legislativos. Os moradores mais velhos logos se interessaram pelas reuniões e viram nesta luta a possibilidade de encaminharem suas reivindicações, e, também, ,puderam ter ali um local de lazer, pois o primeiro presidente colocou um salão de sua propriedade à disposição para que fossem realizados bailes nos fins de semana. À medida que se conseguia conquistar a extensão da energia elétrica na Rua Coimbra, a Sociedade ganhou mais confiança em si mesma, embora, com alguns atropelos. Pois alguns achavam mesmo que a diretoria poderia conquistar tudo automaticamente e tiveram suas ilusões abaladas, entretanto a diretoria foi tocando.
            Quando chegamos em Diadema, papai conheceu AMARO CAVALCANTI, que vinha procurando organizar as sociedades amigos de bairros e isso facilitou a realização de reuniões para discutirem em conjunto as reivindicações dos bairros. Isso os levou a lutar pela criação dos plenários das sociedades, como não poderia deixar de acontecer, em um município carente de toda infra-estrutura, levou as autoridades a verem nisso uma interferência no encaminhamento das necessidades municipais. Por conseguinte,  aqueles que exerciam cargo de vereadores e o próprio executivo não podia ou não queria admitir as reivindicações como resultado normal da necessidade do povo e alguns deles passaram a ver o movimento como sendo coisa de comunistas. Mas ainda assim, eles continuaram o trabalho de reforçar plenários das sociedades.
            Nesse ínterim papai foi convidado para ser o responsável pela sub-sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Ele foi contratado pela diretoria, devido sua experiência na luta sindical travada na capital de São Paulo. Ao aceitar este cargo começou mais uma experiência de luta contra os inimigos do povo brasileiro.
           
            Mais um relatório do DOPS
"Em relação nominal, datada de 07/02/1963, de indivíduos que adquiriram livros de propaganda subversiva na Livraria das Bandeiras nesta capital,  consta JANO RIBEIRO - Rua Barão de Itapetininga, 93, nomes extraídos das duplicatas.
Conforme Boletim de Ocorrência datado de 04/08/1963; DOPS, JANO RIBEIRO, qualificado acima, comerciário, fiscal do Sindicato dos Metalúrgicos e encarregado da Sub-Sede de Diadema, juntamente com outros indivíduos, foi detido e indiciado em inquérito policial por distribuição de panfletos na fábrica da Willis e da Mercedes Bens, em SÃO BERNARDO DO CAMPO.
            Em relatório reservado de 5/963, sobre a eclosão de greve geral nos meios sindicais, consta que os líderes comunistas do ABC estiveram reunidos, inclusive o cripto-comunista JANO RIBEIRO. Essa foi uma reunião dos dirigentes sindicais, para garantir o pagamento do 13º salário, obrigando as firmas a estenderem a todos os salariados (pois ainda não tinha a força de lei)."
Eles lutavam contra aqueles que não queriam pagar o 13º onde  participaram de forma destacada os trabalhadores que estavam exercendo o mandato de delegados sindicais nas empresas do grande ABCD. Isso levou mais uma vez o DOPS a tentar transformar uma reivindicação justa em caso de comunista, o que não seria de se surpreender, pois a maioria das indústrias de 1963 eram ligadas as montadoras de carros.


            Papai e Luiz Carlos Prestes
            Do dia 19/07/1963, papai esteve a serviço da direção estadual do PCB. Até o fim daquele ano.
            Por estar à disposição da direção estadual, depois de um bom tempo, foi designado para desempenhar a tarefa de acompanhar o secretário da Direção Nacional, LUIZ CARLOS PRESTES, que nessa época morava no bairro de Vila Mariana. Depois de algum tempo, meu progenitor pediu afastamento dessa tarefa, pois os gastos com manutenção não estavam dando para suprir suas despesas. Ele conversou isto com a esposa de PRESTES,  que passou a informação ao seu cônjuge, o qual autorizou papai a deixar esta tarefa. Mas ele sentiu-se muito honrado por ter recebido esta incumbência, a qual lhe foi comunicada por RAMIRO LUCHESI, um grande profissional e intelecto que marcou bem a profissão de "STALIN" e a assimilação da doutrina marxista leninista.
            Por meio desta tarefa, pôde papai entrar em contato com os dirigentes do partido, bem como de várias pessoas da intimidade do "camarada" PRESTES. Sua tarefa terminou um pouco antes dos agentes do imperialismo americano mostrarem, mais uma vez, que não têm respeito pelos direitos humanos. Eles invadiram a residência de PRESTES, não respeitando o seu lar e nem os direitos humanos de seus familiares. Estas lhes eram atitudes pertinentes todas as vezes que alguém se colocava contra seus interesses. Portanto, era necessário estar sempre preparados para autodefesa e não ter ilusões de classes.
            Papai entrou para o Partido após a leitura do Manifesto de 1950, sendo que seu ingresso foi em 1954. Acompanhou todas as mudanças da linha política e, como já foi transcrito antes, passou a ler muito sobre a doutrina. Por esse motivo, quando foi dado o golpe militar em 01 de abril de 1963 e o conjunto da Direção ainda tinha ilusão de uma possibilidade de resistência das forças ligadas a GOULART, via comandante do 1º Exército de AMAURI KRUEL, a mesma não poderia ocorrer, com de fato não se deu. O pessoal do ABCD tentou levar os trabalhadores para a greve, mas não tiveram respaldo por parte dos mesmos trabalhadores. Isso levou papai a falar com o secretário do Sindicato dos Metalúrgicos, pois, nessa época, além de membro do Partido, ,ele era seu funcionário. Mostrou que ele não deveria ter mais ilusão de resistência ao golpe militar, deveria ter cuidado com sua atuação e preparar o terreno para recuar, organizado. Parece que ele não aceitou a consideração de papai e deu oportunidade para os agentes do imperialismo, ao invadirem o sindicato, levarem tudo que tinha em sua gaveta, pois eles a arrombaram. A partir desse momento começa vida na clandestinidade total.
            Essa foi uma fase muito difícil para nossa e tantas outras famílias. Mamãe, meu irmão mais velho e eu passamos a serem atormentados altas horas da noite pelos seus agentes que queriam saber do paradeiro do papai e muitas vezes tínhamos que fugir de madrugada para casa de parentes ou amigos, pois eles nos ameaçavam com prazos para que mamãe dissesse onde estava o papai, pois caso contrário eles levariam meu irmão mais velho para ser torturado até papai se entregar. Ficamos muito tempo sem saber do paradeiro do papai e, é claro que,  ainda que soubéssemos,  não  iríamos dizer. Entretanto,  não poderíamos ficar esperando "os homens" (que é assim que o chamávamos e já os conhecíamos pelas botas) voltassem e levassem meu irmão. Então, mamãe só tinha uma saída: decidida a defender os filhos e o marido,  fugia conosco. Muitas vezes só carregávamos a roupa do corpo, passávamos um tempo fora, que podiam ser dias, semanas, meses ou anos. Voltávamos e   fugíamos de novo... O caro leitor sabe o quanto é duro para uma criança, e mesmo para um adulto, não poder ter uma estabilidade em relação ao lar, a escola e nem às amizades, pois além de termos de  quebrar repentinamente o contato com os colegas de escola e amigos, não podíamos nos dar ao prazer de fazermos novas amizades em nossos novos e instáveis logradouros, pelo motivo de nos manter calados o maior tempo possível.
            Quando recebemos uma visita dele não estávamos morando em Diadema, depois de um tempo ele foi morar conosco e se afastou novamente e nos voltamos para Diadema. No dia 25/03/1966 nasceu meu irmão caçula, Cássio Lopes Ribeiro. Papai ficou afastado de Diadema até 1966. Ele não poderia se expor, pois o seu relacionamento com o Partido era intenso, assim como com os trabalhadores da região do Grande ABCD. Como não sabia até que ponto poderia agüentar as torturas, para evitar problemas maiores, ele preferiu ficar na clandestinidade e isso foi positivo, pois a ditadura matou, torturou, exilou, cassou mandatos... Enfim, fez tudo o que o imperialismo mandou para tentar se impor pela força das armas em seu domínio no país assustado com sua barbaridade. Quando ele voltou para casa conheceu meu irmão e também comprou a primeira televisão e geladeira para a família. Foram momentos de grande alegria para a família.
           
            Eu e a História
            Comecei a cursar a primeira série do primeiro grau, naquela época denominado primeiro ano primário com sete anos completos. Quando estava  a cursar a segunda série, no ano de mil novecentos e sessenta três, precisamos nos mudar novamente e a mesma  foi feita uma parte  em Diadema e a outra num bairro de Santana, São Paulo, numa escola de madeira. Posso confessar que este foi o lado bom desta mudança, pois a minha professora no início da segunda série era a mesma que havia me dado aula no primeiro ano, a qual que vivia me dando regüadas na mão por eu ser canhota e eu, é claro, não entendia e detestava isso. Odiava a tal ponto, que um dia, quando ela assim procedeu, arremessei contra a mesma meu lápis, borracha e em seguida o estojo. Minha mãe foi chamada à escola e passou a informação ao papai que não me puniu, pois entendeu a minha reação. Bem, mas vamos à segunda fase da minha segunda série...  Minha professora chamava-se Meire,  era muito enérgica e, como de se esperar, havia sido educada nos moldes antigos. Portanto, era conteudista e reprodutora da sociedade. Nessa época já havíamos encontrado papai e nos mudamos para poder ficarmos junto dele. Pois bem, como relatei acima, lembro-me claramente que papai, quando estava conosco lia muito livros  significativos,  principalmente de História do Brasil (da verdadeira História) e para nós ele lia os livros infantis do Monteiro Lobato para crianças e eu, quando aprendi a ler, lia esta coleção do Lobato  para crianças e alguns dos livros de papai. Portanto não aceitava nem o conteúdo e nem a maneira como a professora  tentava nos ensinar História do Brasil, que era uma visão distorcida da realidade,  de uma maneira bem enfadonha e nada estimulante ou criativa,  na qual tínhamos que  decorar questionários com perguntas e respostas já prontas do conteúdo que ela tentava transmitir e depois fazermos as “provas” para verificarem se tínhamos assimilado o conteúdo.  Só que eu não sabia me explicar que não era aquilo que eu queria aprender, que estava tudo errado, e uma vez levei uma surra de papai quando mamãe chegou com o meu boletim contendo notas vermelhas em História. Mais tarde ele veio a entender o por que eu não ia bem em Estudos Sociais, foi  quando eu consegui encontrar argumentos para explicar  o porquê de todo aquele conflito. Devo dizer também que papai, muitas vezes, me chamava  de Emília (referindo-se à Emília do Sítio do Picapau-Amarelo), a princípio fiquei meio chateada, achando que ele referia-se apenas à minha teimosia, mas depois entendi que era a minha maneira questionadora de ser e gostava, pois realmente sempre achei que as coisas mereciam maiores explicações e não aceitava as respostas simplistas como: "Porque sim" ou "Porque não". Inúmeras vezes meus professores mandavam-me calar a boca e parar de fazer tantas perguntas.

            Agradecimentos
            Papai agradece a todos os que lhe deram abrigo durante o tempo que esteve fora de Diadema e cita:
"Dando continuidade a minha memorização política,  gostaria de agradecer todos que me deram abrigo durante esse tempo que estive fora de Diadema, que vai de 1964 a 1966. Isso permitiu que eu entrasse em contato com pessoas que não tinham uma participação mais aberta em relação a nossa luta, porem tomavam atitude corajosa dando abrigo a mim como a outros companheiros que estavam na mesma situação de clandestinidade. Prova que  não estávamos  lutando sozinhos, e nossos ideais tinham apoio nas pessoas com sensibilidade humanista. Só  uma definição política e ideológica poderia levar essas pessoas a colocarem em risco os seus lares, nos dando abrigo. Isso veio consolidar meus conhecimentos sobre a reação dos seres humanos. No meu caso específico, recebi abrigo de pessoas que não eu não conhecia  e que se mostraram tão solidárias, que eu fiquei até assustado, pois conhecendo as sanhas do imperialismo, manifestadas em todo o Mundo  Ocidental "Cristão" , que para mim é um acinte ao cristianismo, essa maneira de dizer ocidental cristão. Pois, bastaria dizer região onde prevalece o  individualismo, como doutrina oficial e oficiosa, zona em que a propriedade dos meios de produção é particular e o povo deve se submeter a todas dificuldades, não terem terra para plantar, não terem escolas, não terem alimentos, saúde, direito ao lazer... enquanto o imperialismo gasta bilhões de dólares para ampliar seu pseus ideais tinham apoio em pessoas sensíveis e humanistas.
           
           
           

Candidatura do papai
"Em 11/10/1963 o Sr. Delegado de Polícia de Diadema solicitou informação a respeito do epigrafado, constando àquela delegacia estar investigando as suas atividades, visto ser candidato a vereador naquele município pela legenda do PSD, líder sindical dos metalúrgicos, tendo em vista a sua participação em movimentos grevistas."
As considerações de papai:
"Como pode se deduzir, este é mais um relatório do famigerado DOPS, agentes do imperialismo dos EUA, outra vez, tentando intervir na resolução que deveria ser soberana, pois a representação política é um direito humano, não pode ser roubado do povo esse direito. Portanto, em nome do papel de polícia que o imperialismo americano, auto se determinam, tentam passar por cima da própria lei eleitoral, pois somente ela deveria registrar o candidato escolhido pelo partido político, tentando determinar quem pode e quem não pode ser candidato”.
Nessa experiência papai contou com a participação dos companheiros do movimento sindical e teve uma votação expressiva, mesmo não atingindo o quorum eleitoral, pois antes de terminar a apuração dos votos foi cumprimentado por todos que sabiam que tinham disputado o cargo de vereador.
Lembro-me que naquela época papai fazia em casa,  com ajuda da mamãe, a cola para colar os panfletos nos postes e, como trabalhava durante o dia, saia à noite, com os companheiros, a colar os panfletos nos postes e algumas vezes conseguíamos ir juntos e, tanto eu, como  meu irmão mais velho, adorávamos vê-los fazerem  aquilo.
Recordo-me, nitidamente,  também que no dia da eleição, um vereador do partido conservador de extrema direita, o senhor "Juarez Rios de Vasconcelos", ousou fazer uma crítica negativa referente ao papai, em público e  na frente da mamãe. Ah, mas esta  disse-lhe poucas e boas. Acredito que isto deva ter servido de lição, pois nunca mais tivemos informação de qualquer crítica por parte deste, pelo menos em público.  Exultei com a atitude de minha genitora, pois que ela tinha certeza que se papai era um homem íntegro e com um grande ideal. Mamãe tem só um metro e meio de altura, mas quando se tratava de defender papai ou alguém da família...

Globalização?!?!?!...
Papai pôde perceber com essa experiência  que "os trabalhadores ainda não estão convencidos da necessidade de participar da vida dos partidos políticos, mesmo no movimento sindical. Que não era e ainda não é uma participação como deveria ser para avanço das lutas populares que levarão ao comunismo.
“O capitalismo internacional, está passando pela sua fase superior, como nos ensinou LÊNIN, o período do imperialismo e essa dita Globalização é o nome que os representantes dos partidos sociais democráticos deram ao imperialismo. Uma das formas mais variadas que o capitalismo usa para tentar enganar as massas. Tenho a certeza de que o capitalismo estatal, não deva ser uma bandeira dos partidos de classe  e, alguma falta de experiência do movimento de massas, permitiu aos agentes do imperialismo americano montarem um processo contra o partido. Usando a tortura e o assassinato, eles conseguiram o que não tiveram possibilidade de fazer no golpe militar, ou seja, tentar destruir o PCB. Pois o partido, depois que percebeu que tinha passado por uma fase de ilusão de classe recuou organizado e foi trabalhando para ganhar a opinião das forças que poderiam derrotar os golpistas. O PCB, é um organização que tenta fazer da experiência da ciência, em todos os campos, o seu método de análise para suas atividades. Portanto, não se poderia ter dado essa oportunidade. Os companheiros que não entenderam, confundiram o trabalho sindical e o do partido, deixando brecha para o inimigo, que sempre estará infiltrado nas organizações de massa, cujo papel é dividir, intimidar, radicalizar teoricamente para tentar apavorar as massas e ao mesmo tempo localizar o partido. Uma questão que o imperialismo não admite: que os homens são dotados de capacidade de pensar. Nós teremos sempre uma saída para lutar pelo comunismo, pois estamos a favor do desenvolvimento humano e dos seus direitos. Portanto, o imperialismo pensa que pode passar por cima das consciências. Ele tenta intimidar o povo com suas armas nucleares e toda parafernália militar. Não necessitamos que os seus agentes venham nos dizer o que deve ser bom para nós. Sendo nossa doutrina coletivista, ela só poderá ser implantada pela luta das massas”.

As ausências e a presença de papai em minha vida
Quando fiquei noiva, no ano de 1976, papai estava novamente preso e não pode participar daquele momento. Casei-me em 1978, mas, por diversos motivos, em 2011precisei separar-me e contei com a ajuda do papai para pagar uma advogada e logo depois de um tempo contei com o apoio dele para fazer minha especialização em Literatura Infanto-Juvenil. Ele tem sido meu esteio tanto no incentivo aos meus planos de evolução intelectual como material.
PCB
            Sabe-se que a ditadura no país começou a ser extinguida 1984, mas muitos cidadãos ainda sentiam o peso dela e foi extinguida oficialmente em 1988 (será?) Mesmo após a anistia, meu pai continuou atuando na política com muito empenho e em favor de um país melhor, pois muitas coisas ainda precisam ser modificadas para que o povo possa ter um vida digna.Vou transcrever aqui as últimas colocações que ele fez no documento que me deu:
“Vou encerrar essa minha memorização, e colocar mais uma vez o que acho como poderemos marchar para o comunismo:
1º) Devemos lutar com o proletariado internacional, para que seja posto fim nas armas nucleares e o desarmamento total;
2º) Que cada partido comunista procure fazer sua luta local, sem esquecer o internacionalismo proletário;
3º) Aqui no Brasil, proponho que lutemos para ser demarcada as terras dos Índios, junto com a reforma agrária, apoiando integralmente os companheiros do MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA.”
  Até o final do ano passado, papai ainda participava de movimentos em prol de povo brasileiro, mas, como a vida nos apresenta situações que nos fazem interromper nossos planos, ele, devido ao câncer, não mais está podendo atuar na vida política do país e nem mesmo participar de compromissos corriqueiros.
Ele pretendia ir, em janeiro deste ano, à Islândia para ter lições de cidadania e descobrir como o povo de lá derrubou o governo sem sangue e conseguiu implantar uma constituição que realmente defende o dever dos cidadãos daquele país. Entretanto, como eu já relatei acima, ele foi proibido, pelo médico, de   viajar e está com dificuldades até mesmo para se locomover.
Eu também pretendia escrever um livro com a vida dele, mas para isso teria que fazer viagens e pesquisas. Porém estou com problemas sérios na coluna e mal consigo ficar sentada. Digitar esse finalzinho do meu documento está sendo muito difícil, mas eu quero publicar essa pequena homenagem ao papai enquanto ele está entre nós.
Peço desculpas a todos por algumas falhas e ao papai também por algumas colocações distorcidas. Posso afirmar que tudo foi feito com muito amor e dedicação e todos os fatos relatados são reais.
Papai completará 84anos no dia 29/04 e continua uma pessoa honesta, justa e preocupado com o bem estar da família.